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Review: Hitman 3 é a conclusão arrasadora da nova trilogia da série


O protagonista do game atende pelo nome de Agente 47 e é um assassino profissional
O protagonista do game atende pelo nome de Agente 47 e é um assassino profissional Divulgação/IO Interactive

Você invadiu um castelo centenário em uma região montanhosa do sul da Inglaterra, com a missão de matar a matriarca de um clã poderoso e multimilionário. Além disso, deve conseguir roubar documentos com o perfil do líder de uma organização ultrassecreta chamada Providence, que possui controle de vários aspectos geopolíticos globais.

Parece o enredo comum de um game de espionagem. Mas, chegando lá, o protagonista — o Agente 47, um assassino profissional altamente treinado e geneticamente modificado — descobre que o irmão do alvo se suicidou em circunstâncias suspeitas.

Nos primeiros minutos da missão é necessário decidir: prosseguir direto para eliminar o alvo, ou se disfarçar de um detetive particular e tentar solucionar o mistério, que envolve passagens escondidas, o passado assustador de uma família e irmãos beberrões.

Esse tipo de escolha ocorre praticamente em tempo real — às vezes com pistas no ambiente, às vezes soprada em seu ouvido por seus auxiliares na missão de assassinar pessoas ao redor do mundo — e é parte constante da experiência de jogar Hitman 3.

O game é a conclusão da trilogia denominada World of Assassination, que coloca 47 em meio à uma guerra entre organizações secretas poderosas. Suas engrenagens narrativas não diferenciam o jogo de uma história de James Bond, mas guarda mais semelhanças com thrillers de espionagem mais tensos, conspiratórios e tecnológicos, como Missão Impossível.

Hitman 3 foi lançado em 20 de janeiro, em versões para PlayStation 4 e 5, e Xbox One e Series X, além de PC. No Brasil, saiu inclusive com cópias físicas para os consoles.

Em seus aspectos básicos, é fácil definir Hitman 3. O protagonista recebe alvos para matar e quase sempre deve se aproximar furtivamente deles. É possível localizá-los sem grandes dificuldades, mas chegar até eles, eliminá-los e ir embora sem ser metralhado por guardas treinados representa um grande desafio. Para isso, o protagonista/você conta com disfarces, gadgets e um senso de observação apurado.

Simução imersiva

Quebra-cabeça é o melhor termo para definir como um jogo da série Hitman funciona. O game é um exemplo perfeito de immersive sim (ou um simulador imersivo), um gênero de jogo que enfatiza escolhas do jogador, e conta com sistemas e mecânicas que reagem com razoável confiabilidade à essas escolhas. Nesse tipo de ambiente, cada jogador mergulha em experiências potencialmente diferentes e pode completar objetivos de formas bem singulares a cada tentativa.

Todos os cenários são cheios de personagens e com missões secundárias
Todos os cenários são cheios de personagens e com missões secundárias Divulgação/IO Interactive

Mas, enquanto um quebra-cabeça forma algo reconhecível diante da montagem de suas peças que, separadas, não são grande coisa, cada pedaço de Hitman é algo único e independente e a junção de tudo forma algo bastante ímpar.

Entrei nesse terceiro capítulo praticamente como um novato da série. Da franquia já havia jogado o Silent Assassin (2002) e o Absolution (2012), mas nenhum dessa nova trilogia, que fez a alegria dos fãs — e enraiveceu outros — com uma história mais direta sobre o enigmático personagem principal e conspirações globais.

Obviamente começar uma trilogia pelo encerramento não é a forma ideal de lidar com histórias complexas, mas não foi um voo completamente no escuro. A desenvolvedora IO Interactive preparou um vídeo que resume narrativa até ali e alivia o jogador.

Além disso, apesar da importância da história e da trilogia em si, o mais importante são os aspectos particulares das missões. Cada uma delas é bem diferente entre si e tem aqueles detalhes cosmopolitas de filmes e séries de espionagem modernos.

Em uma das minhas favoritas, 47 deve caçar inimigos em meio a uma rave dentro de uma usina nuclear alemã abandonada. É sofisticado, tenso e parece até transpor o cinema, ao impor um ritmo muito próprio e contínuo. Não importa se um jogador completa a missão em 10 ou 80 minutos: a tensão provavelmente é a mesma. Há ainda cenários como um prédio extremamente alto nos Emirados Árabes Unidos e outros que queria descrever, mas é melhor não para manter as surpresas.

São cinco missões (e um epílogo um tanto repetitivo, linear e quase descartável) que testam nossas habilidades a cada momento em ambientes diferentes. Saber entrar escondido em prédios ou se disfarçar rapidamente são habilidades importantes, mas Hitman (o que inclui esse terceiro jogo, na verdade o oitavo da franquia) brilha de verdade quando o jogador abandona o perfeccionismo e começa a improvisar.

Se o seu disfarce foi descoberto, existe a possibilidade de se esconder em um armário, correr para outro andar, lidar com a testemunha que te descobriu. A única coisa que geralmente não acaba bem é iniciar um tiroteio. O Agente 47 é bastante fatal agindo furtivamente, mas não é um supersoldado que vence hordas de inimigos. Um sistema de saves robusto, que combina salvamentos manuais e automáticos, evita decepções e definitivamente incentiva o jogador a experimentar até as alternativas mais estapafúrdias.

Jogando sem medo

Immersive sims com elementos stealth sempre me assustaram um pouco. São como árvores excessivamente gigantes que nunca me mostram os galhos seguros para uma boa escalada. Essa instabilidade aparente pode afastar um pouco jogadores mais contidos, mas é o real charme do estilo.

Hitman 3 (e os outros games da franquia) alivia essa possível instabilidade com um senso de humor refinado e um claro incentivo ao improviso. Ser visto nunca é o fim do mundo. Perder o timing do assassinato perfeito nunca te torna um jogador pior. Há tantos caminhos e segredos, que o seu caminho é sempre o correto.

Há coisas engraçadas também, como jogar latas de refrigerantes na cabeça do cliente de um restaurante, causar um pequeno caos, e roubar as roupas dele. Pode parecer errado chamar atenção dessa forma (é um jogo furtivo, no fim das contas!), mas o mais importante é sempre completar a missão.

Ver essas ações reagindo umas sobre as outras me fez até relevar alguns poucos bugs que encontrei. No maior deles, uma assistente que deveria guiar um 47 disfarçado para uma reunião com um dos alvos, simplesmente decidiu não se mexer. Me restou entrar no lugar sem ela e perceber que a reunião funcionou mesmo assim.

Em outros momentos, o sistema é um tanto engraçado. Caso entre disfarçado em um prédio portando armas ilegais, uma simples revista alarmará a todos, chocados ao descobrir um invasor. A falha nessas situações não é exatamente uma punição, mas uma descoberta, algo inerente ao jogo. Hitman 3 é como um grande playground pronto para ser experimentado.

Não é por acaso que o estúdio por trás do jogo — o sempre competente IO Interactive — seja o responsável por um novo game de 007 (por enquanto, chamado simplesmente de Project 007). Pode ser a mudança que James Bond precisa, uma vez que os lançamentos da franquia nos últimos anos foram transformados em games simples de correr e atirar.

A IO Interactive parece a empresa perfeita para interromper essa sina dos jogos da série.

Espião moderno

Mais que a história em si, a sensação que o game passa parece ser o mais importante aqui. Viajamos o mundo, lidamos com hackers, organizações secretas, conspirações. No fundo, apesar da clareza moral de muitos momentos, não sabemos exatamente o resultado dos nossos atos ou temos toda a certeza a motivação deles. Mas, diferente do emaranhado de segredos e fluxos de informações de filmes de espionagem, aqui sempre existe o Objetivo Final quando se está perdido: encerrar o contrato, um eufemismo para matar alguém profissionalmente.

Essa obscuridade possui certos reflexos positivos nas mecânicas também. Existem missões dentro dessas missões, que geralmente funcionam como atalhos para chegar aos alvos mais facilmente. Se disfarce de mendigo e talvez consiga chegar mais perto de um personagem afeito a experimentos genéticos sinistros.

Algumas dessas pequenas missões podem levar algumas horas de buscas por segredos e te farão propositalmente atrasar a execução do alvo simplesmente porque são divertidas e envolventes. O game possui um dos melhores designs de fases exatamente para um jogador se sentir plenamente satisfeito enquanto explora o ambiente, ouve conversas, traça estratégias e tentar executar tudo perfeitamente.

Se disfarçar é uma das principais mecânicas do jogo
Se disfarçar é uma das principais mecânicas do jogo Divulgação/IO Interactive

Poucos jogos farão você se sentir tão plenamente na pele de um espião/assassino como esse. Entrar em uma missão (aquela da rave na usina nuclear) sem qualquer informação e ter que recolhe-las em campo, ouvindo conversas e roubando comunicadores, é uma experiências bastante singular, mesmo quando repetida posteriormente.

Fator replay

O conjunto final de seis missões pode parecer relativamente curto caso o jogador decida dar tudo por encerrado após a subida de créditos. Chegar até o final pela primeira vez provavelmente não levará mais que 10 horas, o que parece pouco para as exigências atuais de um game mainstream.

Mas a beleza de Hitman 3 é justamente a explorar novamente boa parte dessas fases. Uma lista de desafios no final inclusive dá pistas das possibilidades de eliminação de alvos presentes no jogo: às vezes é possível afogar, esganar, dar um tiro de sniper, defenestrar, jogar em um tanque químico,  eletrocutar, e por aí vai.

A profundidade de cada fase e o fator replay presente nela até apaga a chatice de Hitman 3 exigir parcialmente que o jogador esteja sempre conectado aos servidores da empresa. É bem possível jogar offline, mas parte dos desafios só aparecem quando se está online, o que pode ser um entrave em momentos de conexão ruim.

Entre furtivamente e cace o alvo
Entre furtivamente e cace o alvo Divulgação/IO Interactive

World of Assassination soa como a trilogia de reinício de James Bond. Mantém as raízes do personagem, enquanto consegue avançar na história dele, atualizando cenários e aspectos geopolíticos. Como todo reboot, a ideia não é esgotar as possibilidades do protagonista, mas impulsioná-lo rumo à novas descobertas e explorações. É provável que não demoraremos a ver novas tramoias e conspirações envolvendo o Agente 47 e sua estranha organização mundial.

Como conclusão, de uma peça em três atos, Hitman 3 se mostra uma experiência única, injetando muita emoção, ótimo design, diálogos excelentes e um fator replay pouco visto. É muito difícil ser mais obrigatório que isso.

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